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“Nós, povos indígenas, queremos falar por nós", destaca Vanessa Karajá

Vanessa Karajá ressalta o aumento da presença indígena nas universidades e defende que a ciência deve incluir os saberes tradicionais, reconhecendo os povos originários como pesquisadores e não apenas como objetos de pesquisa.

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Letícia Jury

12 de setembro de 2024

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“Nós, povos indígenas, queremos falar por nós.” Esta foi uma das primeiras frases ditas por Vanessa Hãtxu Karajá, em entrevista ao Baru Observatório de Jornalismo Ambiental, após a Oficina de Grafismo, que aconteceu durante o Festival do Cerrado, na UEG, em Anápolis. Ela destacou a importância do protagonismo: “Nós queremos exercer o nosso papel. Até há pouco tempo, eram os não indígenas que falavam por nós, eram historiadores, antropólogos. Hoje, nós estamos em todos os espaços.”

Segundo Vanessa Karajá, tem sido cada vez mais comum os povos indígenas buscarem seus espaços dentro das universidades. Ela, que é pedagoga, professora e fez sua faculdade na Universidade Federal de Goiás, destaca que a ciência é importante, mas na medida em que ela inclua a todos e reconheça os saberes tradicionais e originários, inclusive enquanto pesquisadores, e não apenas como objetos de pesquisa. “Nós temos capacidade, temos nossos direitos assegurados, e também queremos falar”, enfatiza.

No entanto, a experiência na universidade ainda é marcada por estereótipos e preconceitos. Além da adaptação, da saudade de casa e das tradições, os povos indígenas enfrentam o desconhecimento e, muitas vezes, a desvalorização em sala de aula. Com Vanessa Karajá não foi diferente. “É um desafio muito grande. Nós, como indígenas, estamos tentando desconstruir os estereótipos e construir uma nova história”, destaca.

Muitos jovens desistem da faculdade no primeiro semestre. “Pouca empatia. Quando há grupos de trabalho em sala de aula, poucos querem nos incluir nesses grupos”, relata. Ao retornar à aldeia, onde coordena uma escola, na comunidade Xerente, há 80 quilômetros de Palmas (TO) para cerca de 40 alunos do Ensino Fundamental ao Médio, Vanessa Karajá diz que o desafio é educar as crianças para serem fortes. 

“O preconceito é inevitável. Todo indígena sofre preconceito. Infelizmente, o nosso país não reconhece que lá em 1500 o povo brasileiro começou com o povo indígena. A mãe do Brasil é indígena, embora o brasileiro tenha vergonha. Ele quer se orgulhar do pai europeu”, desabafa.

Um assunto que não poderia deixar de ser abordado com a professora foi a questão climática, em decorrência da forte conexão do indígena com a natureza. “A parte mais importante para nós é a natureza, o rio, o sentimento de tristeza. Quando vemos o nosso Rio Araguaia morrendo, nós morremos também. Estamos passando por este desafio, um dos anos mais quentes da história, e nos preocupamos com as futuras gerações. Os não indígenas não pensam nos netos e nos bisnetos. Nós queremos deixar a natureza preservada para que todos possam usufruir no futuro”, conclui.

A conexão com o rio é algo marcante para Vanessa Karajá e todo seu povo. Ela conta que, de acordo com a história de seu povo, eles vieram do fundo do rio, um submundo onde não há morte nem dores. “Quando morremos, voltamos para o fundo do rio. Esta é a nossa concepção de vida”, relata. E esta relação impacta diretamente na luta pela preservação!  



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