"A prevenção é anônima, mas a catástrofe gera heróis e visibilidade", diz Antônio El Zayek
Em tempos de queimadas que assolam todo o Brasil, principalmente o Cerrado, o consultor ambiental lamenta a ausência de prevenção a desastres ambientais. Para ele, infelizmente, a política brasileira não prioriza a educação ambiental e a fiscalização, entre outras ações necessárias para combater os incêndios.
Letícia Jury
20 de setembro de 2024
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As notícias estão por toda parte! Em praticamente todos os veículos de comunicação, as manchetes destacam as queimadas, que atingem principalmente o Cerrado. Dados do Monitor do Fogo, do MapBiomas, mostram que 43% de toda a área que sofreu queimadas no país em agosto foi no bioma. Para o consultor ambiental Antônio El Zayek, há muitos anos não havia tantas queimadas. "Em 2010, tivemos algo semelhante, mas não como agora, com tantas áreas produtivas, canaviais e lavouras sendo queimadas", destacou.
Segundo ele, o cenário é triste, muito sério e reflete as mudanças climáticas. Como ele explica, a aceleração da estiagem favorece os incêndios devido ao calor intenso, matéria orgânica muito seca e oxigênio abundante – uma combinação explosiva. Antônio El Zayek lamenta o momento atual, já que o fogo degrada o solo, o gado fica sem alimento e as nascentes secam.
Questionado sobre a atuação governamental em todas as esferas, El Zayek lamenta a ausência de políticas públicas preventivas. "Só se pensa na catástrofe", comenta, citando as enchentes que ocorreram no Rio Grande do Sul. "A prevenção é anônima, mas a catástrofe gera heróis e visibilidade. Politicamente, a catástrofe funciona melhor", analisa. Para ele, infelizmente, a política brasileira não prioriza a prevenção. "Agora, os prejuízos são imensos e envolvem educação, legislação e fiscalização", conclui.
E sobre a ideia de que o fogo é inerente ao Cerrado? El Zayek afirma que isso é verdade, mas representa apenas 1% da situação atual. "O fogo passava e deixava o solo chamuscado, e ainda assim dava caju e pequi. Hoje, quando ele passa, mata a parte aérea das árvores. É um desastre. São incêndios criminosos. O prejuízo para o proprietário da terra é enorme, o solo fica empobrecido e, quando chega a chuva, ele endurece. Perder solo é muito ruim, e a destruição da biodiversidade é gigante. Estamos vivendo uma catástrofe ambiental. O Cerrado está virando caatinga e pode se tornar um deserto", alerta.
Para El Zayek, é necessário salvar os serviços ecossistêmicos do Cerrado, que tem dois terços de sua vida abaixo do solo, e todas as grandes bacias hidrográficas do Brasil têm nascentes no bioma. Em sua avaliação, a função ecológica do Cerrado, que era de reter essa água, especialmente no planalto, para que descesse através do lençol freático, nascentes e leitos dos rios, deve ser reestabelecida, já que com a redução da vegetação, ocorre a alteração da retenção e do ciclo da água.
Para o consultor ambiental, é urgente e necessário preservar o capital vivo do Cerrado, da Amazônia e do Pantanal para que os ciclos naturais não sejam interrompidos. "O empobrecimento do solo causado pela ação humana é uma realidade; no entanto, existem tecnologias sustentáveis para reverter essa degradação. A paisagem e os serviços ecossistêmicos precisam ser reabilitados", defende.