Por que o desmatamento cai na Amazônia e aumenta no Cerrado? Veja cenário atual, respostas e análise
Gestão Lula termina primeiro semestre celebrando reversão do cenário de caos na Amazônia, mas enfrenta dilema com desmate no Cerrado, que ocorre em áreas cujos donos são conhecidos.
09 de julho de 2023
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Quais os motivos para a queda no desmatamento na Amazônia e o aumento no Cerrado no 1º semestre de 2023? De um lado, as explicações passam pela retomada da aplicação de multas e da proibição de uso de terras desmatadas. Do outro, o desafio é frear a devastação que ocorre, em sua maioria, em áreas cujos responsáveis têm nome e CPF conhecido.
Apesar do momento oposto, o governo e especialistas afirma que é possível apontar perspectivas menos sombrias para ambos os biomas brasileiros com a retomada de uma política ambiental na gestão Lula.
Abaixo, veja os números de cada bioma, as explicações para cada realidade e a análise de especialistas:
Para o governo federal, os números, sobretudo da Amazônia, indicam que a primeira missão foi alcançada: reverter a tendência de aumento. Sob a gestão Jair Bolsonaro, foram 4,8 mil km² de desmatamento no segundo semestre de 2022, um aumento de 54% na comparação com o mesmo período do ano anterior. Para ambientalistas, os dados do primeiro semestre mostram a retomada de uma política séria rumo às metas de desmatamento zero.
Para Márcio Astrini, secretário-executivo do Observatório do Clima, "o governo passado não inaugurou o desmatamento no Brasil, mas inaugurou a parceria do governo com o crime".
"O governo tem um pacote em prática para reduzir o desmatamento, mas o congresso tem um pra acelerar. Tem que ficar com um olho no chão da floresta e outro no tapete do congresso porque o combate ao desmatamento se dá nesses dois setores", analisa.
Apesar de os dados do Cerrado serem relativamente novos, visto que a série histórica iniciou em 2019, o bioma possui várias fisionomias diferentes e havia um desafio tecnológico para identificar cada uma dessas áreas.
"Historicamente, ele tem sido tratado como menos importante para a conservação, tido como importante apenas para a produção de grãos, intensificada desde a década de 70, o que é importante para o agronegócio", diz Ana Carolina Crisóstomo, especialista de conservação do WWF-Brasil.
Os números recordes significam que o bioma está absorvendo os impactos do maior rigor com a Amazônia. Uma das alternativas para ajudar a refrear isso é o reconhecimento dos territórios ocupados por povos e comunidades tradicionais, segundo Isabel Figueiredo, coordenadora do Programa Cerrado e Caatinga do Instituto Sociedade, População e Natureza (ISPN).
Figueiredo, que também é integrante do Projeto Ceres (Cerrado Resiliente), destaca que é preciso que se compreenda um pouco mais a relevância do Cerrado para o contexto nacional.
Crisóstomo diz ainda que as autorizações de supressão da vegetação têm sido emitidas pelos órgãos públicas sem consonância com a legislação, além de faltar transparência nos dados.
O levantamento "Desmatamentos Irregulares no Cerrado Baiano: uma política de estado", feito pelo WWF em parceira com o instituto IMATERRA e outros, identificou que dentre 5 mil autorizações, a maioria não está disponível para a sociedade civil.