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Relatório traça rota do algodão e liga crimes ambientais no Cerrado a gigantes da moda

Algodão exportado sai principalmente do oeste da Bahia, onde o Cerrado brasileiro é desmatado ilegalmente para ampliação do cultivo

20 de abril de 2024

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As marcas de moda globais H&M e Zara estão ligadas ao uso de algodão associado à grilagem de terras, desmatamento ilegal, violência, violações de direitos humanos, corrupção e trabalho escravo no Brasil. A produção de algodão ocorre principalmente no oeste da Bahia, onde o Cerrado brasileiro está sendo desmatado ilegalmente para expandir as plantações, com o desmatamento dobrando nos últimos cinco anos, segundo o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe).

A denúncia foi feita no relatório "Fashion Crimes" da Earthsight, publicado recentemente, que investigou os negócios que conectam as plantações brasileiras às marcas europeias ao longo de um ano. O Cerrado, um dos maiores biomas do Brasil, abrange cerca de 25% do território nacional, mas vem sofrendo com altas taxas de desmatamento, perdendo 11 mil km² em 2023, o maior número desde 2015.

O algodão contaminado nas cadeias de abastecimento da H&M e Zara é certificado como ético pelo sistema Better Cotton, o maior sistema de certificação de algodão do mundo, mas não conseguiu detectar as ilegalidades cometidas pelas empresas que cultivam o algodão ilegalmente no Brasil. O relatório sugere que a regulamentação pelos governos dos mercados consumidores ricos é necessária para garantir a sustentabilidade e a legalidade nas cadeias de abastecimento de algodão da moda.

Empresas
 

O relatório destaca casos como o do grupo SLC Agrícola, responsável por 11% do algodão brasileiro exportado, com mais de R$ 1,2 milhão em multas por infrações ambientais desde 2008 nas fazendas do grupo na Bahia. A empresa afirmou que todas as conversões de área com vegetação nativa seguiram a lei e que o desmatamento em 2022 foi por um incêndio natural.

Outro caso é o do grupo Horita, atuante na Bahia desde os anos 1980, acusado de grilagem verde, impondo reservas legais em áreas onde vivem comunidades tradicionais, impedindo suas atividades. O conflito fundiário entre as famílias geraizeiras e fazendeiros data de 1970, e o grupo Horita é um dos sócios de um complexo de fazendas acusadas de grilagem.

Em 2017, famílias geraizeiras da região ganharam em caráter liminar a posse coletiva de 43 mil hectares que o grupo Horita dizia ter comprado. Em 2019, a Operação Faroeste da Polícia Federal revelou um esquema de compra de sentenças para favorecer fazendeiros na região, com Walter Horita, um dos fundadores do grupo, entre os réus. O Grupo Horita afirmou que aguardará o relatório para se manifestar além das respostas já dadas às acusações.

 
 

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