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Combater desnutrição e malária dos Yanomami é prioridade nº 1, diz secretário de saúde indígena

Ao g1, Weibe Tapeba, primeiro indígena a ocupar o cargo no Ministério da Saúde, disse que pretende declarar emergência sanitária e acionar a Força Nacional de Saúde para levar remédios.

05 de setembro de 2023

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Combater a desnutrição e a malária que assolam a Terra Yanomami, maior reserva indígena do Brasil, é a prioridade número 1 do novo secretário de Saúde Indígena (Sesai) do Ministério da Saúde, Weibe Tapeba, primeiro indígena a ocupar o cargo.

Localizado nos estados de Roraima e Amazonas, o território fica numa região que é alvo do garimpo ilegal desde a década de 1980, mas que se intensificou nos últimos anos, afetando cada vez mais a saúde dos Yanomami. O mercúrio usado na extração de ouro polui rios e contamina peixes, impactando a sua principal fonte de água e alimento.

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Advogado e líder indígena cearense, o novo secretário da Sesai foi um dos nomes da lista tríplice enviada ao presidente Lula para chefiar o Ministério dos Povos Indígenas, que acabou ficando com Sônia Guajajara.

Em entrevista ao g1, Tapeba disse ainda que:

Em 2020, o primeiro ano da pandemia, o garimpo ilegal avançou 30% na Terra Yanomami.

Segundo relatório produzido pela Hutukara Associação Yanomami (HAY) e Associação Wanasseduume Ye’kwana (Seduume), a área total devastada pelo garimpo é de 2.400 hectares.

Weibe explica que a presença dos madeireiros e dos garimpeiros tem efetivado de forma generalizada a falta de assistência na saúde indígena.

Como mostrou o g1, muitas unidades de saúde estão desabastecidas de remédios e insumos básicos de saúde.

Segundo os dados mais recentes, na reserva vivem uma estimativa de 20 mil garimpeiros ilegais, contra pouco mais de 28 mil indígenas. Com a invasão do garimpo, os rios são contaminados e as florestas degradadas, o que afeta a saúde dos Yanomami, principalmente das crianças, que sofrem com a desnutrição por causa da escassez de alimentos.

Por isso, segundo o secretário, entre as medidas que devem ser tomadas para enfrentar o problema de saúde pública na região estão:

A Força de Saúde é um programa que foi criado em 2011 para execução de medidas de prevenção, assistência e repressão a situações epidemiológicas e emergências sanitárias. Ela é acionada quando a capacidade de resposta do estado ou de um município é esgotada.

"Já com o gabinete de crise, a ser instalado em Brasília, a intenção é que ele tenha a participação de indígenas, como o presidente do Conselho Distrital de Saúde Indígena (CONDISI) dos Yanomamis, representantes da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib), para que a gente consiga formar uma instância de coordenação de estratégias especiais que estarão acontecendo nos próximos dias", acrescenta.

O saneamento em comunidades indígenas é outra ação sob responsabilidade da Sesai. Como a secretaria coordena a Política Nacional de Atenção à Saúde dos Povos Indígenas, a implementação de programas e projetos de saneamento de saúde indígena fica na sua alçada.

Na prática, porém, Weibe afirma que poucas políticas públicas avançaram nos últimos anos com relação à ampliação do saneamento em comunidades indígenas e destaca que vai retomar os investimentos da secretaria na área, fundamentais, na sua visão, para uma política efetiva de saúde pública.

Mas qual a relação do tema com a saúde pública?

Na área da gestão, Weibe defendeu uma maior participação de indígenas na administração de unidades de saúde.

Atualmente, segundo dados da própria Sesai, a secretaria conta com mais de 22 mil profissionais de saúde, sendo que destes, 52% são indígenas.

Além disso, o novo secretário garantiu que nos próximos dias, revogará uma medida administrativa que impedia o investimento da Sesai em áreas não homologadas.

Como também mostrou o g1, a falta de transparência em relação aos dados de desnutrição, malária e outras enfermidades que atingem o povo Yanomami é um problema frequente.

Essas informações, de responsabilidade Sesai, não ficam disponíveis no site. Os dados são restritos a sistemas operados por servidores do Distrito Sanitário Especial Indígena Yanomami (Dsei-Y), que respondem para a secretaria.

Weibe garantiu que, na sua gestão, irá disponibilizar dados recentes e atualizados dessas enfermidades no território.

"E, para além da transparência, iremos aperfeiçoar o SIASI [sistema de tratamento de dados da Sesai que agrupa os dados epidemiológicos dos seus 34 distritos sanitários], para assim melhorarmos a gestão dos serviços a serem ofertados, algo importante, por exemplo, na questão do Covid. Em alguns territórios, ainda não sabemos o déficit de indígenas que não completaram seu esquema vacinal".

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